sábado, 28 de novembro de 2009

Os 10 anos da batalha de Seattle e a reorganização internacional da esquerda



No dia 30 deste mês comemoraremos 10 anos da chamada "Batalha de Seatlle", considerada o marco da reorganização internacional dos movimentos anti-capitalistas. A batalha na verdade foi um grande bloqueio realizado por movimentos sociais, sindicatos, ONG's e movimentos de defesa do meio ambiente com o intuito de impedir a realização de um importante encontro da Organização Mundial do Comércio (OMC), que lá realizaria a chamada "rodada do milênio". Esse seria o maior avanço liberalizante e produtor de desigualdades da história. Milhares de ativistas, organizados em rede, foram à luta e o aparelho repressivo estadunidense respondeu com força total transformando as ruas de Seattle em verdadeiras praças de guerra mas não conseguindo impedir os ativistas de alcançar seus objetivos. A reunião foi por água abaixo.


É essencial lembrar que nos anos 80 e 90 surgiram teorias estapafúrdias de "fim da história" e o neo-liberalismo (no Brasil representado pela figura de FHC) avançou por quase todo o planeta promovendo um rápido movimento de concentração de renda, precarização das relações de trabalho e financeirização do capital. Ao passo que a esquerda não conseguiu produzir uma resposta e um projeto claro e unificado de superação da ditadura do capital. Passamos então para a defensiva atacando o neo-liberalismo e promovendo a resistência local, mas sem nenhuma grande exito. A maioria dos partidos tradicionais estavam perdidos entre o modelo soviético stalinista e a social democracia europeia.


Eis que na segunda metade dos anos 90 uma série de crises econômicas e sociais começam a eclodir e a mostrar a verdadeira faceta do neo-liberalismo. Os movimentos locais começam a se fortalecer e novos partidos e lideranças começam a surgir, tendo ai a América Latina se apresentado como a vanguarda mundial.


Seattle marca a reviravolta na politica e economia mundial. Fica clara a necessidade dos movimentos anti-capitalistas se organizarem internacionalmente levando assim as lutas local para o global. Podemos afirmar então que ai está a semente do Fórum Social Mundial, que foi realizado um ano e meio depois em Porto Alegre, organizando as lutas dos povos e colocando em pauta uma nova agenda para a esquerda terceiromundista com temas como economia solidária e ambientalismo.


Começam então a surgir governos progressistas com agendas pós-neoliberais, principalmente na América Latina. Pode-se dizer que tudo isso faz parte de um só movimento global de repúdio as politicas neo-liberais e ao modelo de globalização criminoso que estava sendo imposto ao planeta.

A Democracia e a consciência negra

Artigo de opinião escrito por Clédisson “Jacaré” Júnior, diretor de combate ao racismo da UNE e militante da Kizomba

A Consciência Negra

Celebramos em todo o mês de novembro a morte do líder negro Zumbi, chefe do quilombo dos Palmares. Durante todo o mês celebramos os feitos de resistência dos africanos escravizados e recordamos a data da morte de Zumbi no dia 20 de novembro.

No Brasil do século XVII Zumbi liderou aquele que ficou conhecido como o maior e mais organizado quilombo no Brasil colônia. O quilombo de Palmares era auto-sustentavel, composto em sua grande maioria por escravos fugidos das fazendas da região e também vindas de regiões mais distantes, sua extensão era superior ao território de Portugal e seu contingente populacional contava com um numero superior a 30 mil pessoas.

Tendo passados mais de 300 anos desde o seu fim, a luta dos quilombolas de palmares e a de seu líder Zumbi ainda não fora completada. A violência legal e sistematicamente utilizada pelo branco como meio de submeter o negro escravizado, utilizada naquela época ainda é revisitada em vários momentos do cotidiano da população negra brasileira de hoje em dia. O aborto que fora freqüentemente provocado pelas negras escravizadas para não verem seus filhos na mesma situação degradante que elas viviam, ainda hoje encontra nas mulheres negras o maior numero daquelas que recorrem a esta prática por não possuírem amparo do estado para decidirem ou não sobre levar essa gravidez a diante.

Por mais abatidos e rebaixados em sua dignidade,desejos de crescimento e liberdades,negras e negros tendem sempre a resistir, a promover revoluções, transformar a sociedade, alterar as organizações sociais em buscar por uma vida melhor em um mundo melhor.

A Democracia em que vivemos

O estado brasileiro hoje é regido por um conjunto de leis que visam regular as relações sociais e que na prática não colocadas em execução. Há tempos um aparato ideológico foi constituído para que a partir da ótica legal, todos no Brasil pudessem ser compreendidos como iguais perante a constituição e que não é confirmado em nosso dia a dia.

No Brasil o racismo como questão social foi durante décadas negado, mascarado e afastado de todas as discussões de interesse público, sendo visto o tema com reserva, sustentado sob o argumento da miscigenação entre as raças.

A idéia de que nos constituímos em uma sociedade, que apesar da escravidão não existia a linha de cor, artifício usado para impedir a ascensão social das pessoas negras e mesmo de seus descendentes, foi mais um instrumento para sustentar a fundamentação da ideologia de uma sociedade sem preconceitos, mascarando os meios sutis de discriminação racial

A negra e o negro consciente trabalha cotidianamente para que a constituição brasileira da forma como ela esta estabelecida não se permita diferentes interpretações de seus marcos legais, que não se permita subterfúgios que nos tirem as nossas garantias constitucionais para vivermos em pé de igualdade e de direitos como todos os brasileiros necessitam.

A negra e o negro consciente tem como tarefa trabalhar por uma maior organização social, a partir do fortalecimento das entidades que compõe a sociedade, para que possamos intervir e tencionar nos avanços regulatórios que tanto são benéficos a nossa democracia.

Revolucionar a democracia

O relatório de Desenvolvimento Humano Brasil 2005 Racismo, pobreza e violência (PNUD, 2005) fez um levantamento de indicadores brasileiros nas áreas de desenvolvimento humano, renda, educação, saúde, emprego, habitação e violência e concluiu que em todos a situação do negro é desfavorável. O relatório mostra que as diferenças entre brancos e negros apontam em alguns casos uma defasagem de mais de uma geração. A porcentagem de homens negros com curso superior completo, em 2000, era menor que a dos homens brancos de 1980. Do mesmo modo, a taxa de analfabetismo dos negros, em 2000, era maior que a dos brancos em 1980. Os negros apresentavam, em 2000, esperança de vida semelhante à dos brancos de 1991. O estudo aponta também que a taxa de homicídios entre os negros é o dobro da dos brancos.

Dos 191.908.598 brasileiros recenseados pelo IBGE na ultima consulta, 49% deles são negros/pardos, isto é, o Brasil é o maior país com população negra do mundo e o estado brasileiro tem que estar preparado para incluir e promover em dignidade esta grande parcela de sua população.

Entendemos que para além de uma reforma do estado brasileiro, ele necessita de ser refundado, a população negra como principal interessada precisa contribuir para a formação de um novo estado, que este estado seja soberano, atenda aos anseios de sua população, garanta as nossas liberdades individuais e o acolhimento de nossa gente. Faz-se imperativo um estado que promova cada vez mais o alargamento de nossos direitos frente à atual ordem liberal que somente nos faz oprimir.

Devemos ser todas e todos, instrumentos deste processo, devemos lutar pela total radicalização da democracia, pela consolidação de um maior controle por parte da população pelos bens públicos e por um estado forte que cumpra este papel. Não possamos e nem devemos permitir a negociação de nossos direitos sociais, um estado que respeite a diversidade, uma característica forte em nosso país, que combate o racismo, o patriarcado e seus desdobramentos. Um estado que assuma sua posição laica ante as diferentes manifestações religiosas que contribuem para a formação ética e moral de nosso povo, por uma economia publica que contribua para o engrandecimento de nosso país sem que com isso a busca de lucro pelo lucro oprima nossas trabalhadoras e trabalhadores que em sua grande totalidade são mulheres e homens negros.

A população negra assim,tem que estar sensibilizada dos seus direitos para realizar a pressão por mudanças, devemos todos nós lutarmos por mais políticas publicas que tenham como caráter promover a igualdade entre os diversos grupos étnicos de nosso país. É papel dos movimentos sociais organizados aumentar a sua participação na formação da agenda política e na apreciação dos resultados, para garantia de sua efetividade.

Zumbi somos todos nós

O 20 de novembro tem esta característica, é um momento para além do lamento e da comemoração em memória do grande líder do povo negro que morreu na busca por nossa liberdade e dignidade é também o momento de reavaliarmos a nossa atuação neste cenário que não nos favorece.

Relembrar Zumbi,coloca a todos nós na condição de sermos continuidade de sua luta, entendemos que já passamos do momento de denuncias, vivemos hoje a época da ação, da mobilização organizada, da contribuição para um estado que de fato respeite os nossos direitos e os faça aplicáveis.

Ser uma negra e um negro consciente nos coloca em dias atuais na condição indissociável de sermos ao mesmo tempo formuladores e militantes ,cabeça e braços desse corpo que a militância social negra que já vem a séculos lutando por um Brasil melhor, justo e verdadeiramente de todos.

Viva Zumbi

Fonte: www.kizomba.blogspot.com

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

25 de novembro: Dia Internacional pela Eliminação da Violência Contra a Mulher

Hoje é um dia de luta, sobretudo. Mesmo com as recentes conquistas alcançadas pelo movimento de mulheres, como a Lei Maria da Penha, o machismo ainda é fator estruturante da nossa sociedade. A divisão sexual do trabalho encaminha as mulheres para cumprir o trabalho reprodutivo e da vida doméstica, enquanto os homens se encarregam do trabalho produtivo e da vida pública. Essa construção social naturaliza a opressão das mulheres, que além de não possuírem autonomia sobre sua vida e seus corpos, são coisificadas e tratadas como mercadoria. A violência sexista é mais uma das expressões do machismo. Uma estatística já muito divulgada aponta que a cada 4 segundos, uma mulher é vítima de violência, no nosso país.

A União Nacional dos Estudantes tem estado à frente da luta pelo combate ao machismo e violência contra a mulher. Através da Diretoria de Mulheres, criada em 2005, temos discutido amplamente assuntos que se referem à vida das mulheres estudantes. Entretanto, precisamos aprofundar nossa atuação pela implementação de políticas públicas para jovens mulheres. É necessário não só punir, mas também coibir a violência contra a mulher e isso só será possível através da auto-organização das mulheres e da construção de uma educação não sexista, não racista e não homofóbica. Convocamos todas as mulheres estudantes a se organizar em núcleos e coletivos de mulheres em suas faculdades e, aproveitando essa data, reafirmamos que estaremos em luta até que todas as mulheres estejam livres das amarras que a diminuem e oprimem.


União Nacional dos Estudantes

Diretoria de Mulheres

www.mulheresnaune.blogspot.com